No início de março de 2018, o presidente norte-americano Donald Trump anunciou uma medida que pegou a muitos de surpresa e causou ultraje por parte de quase todos os países do globo.
A medida refere-se à aplicação de uma tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados pelo país. A decisão do presidente, logo caracterizada por muitos como um retrocesso da ordem liberal e globalizada, não havia deixado nem mesmo o Brasil de fora, segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos.
A decisão ecoou internacionalmente como uma fagulha que poderia apontar para uma guerra comercial, algo que nenhum país poderia ver como algo vantajoso. Contudo, rapidamente o discurso de Trump passou para a incongruência. A decisão, que não deveria abrir exceção para nenhum país¹, logo foi retirada para os países do Nafta, bloco econômico composto por EUA, Canadá e México.
Mais tarde, os assessores de Trump talvez tenham conseguido fazer o presidente notar o equívoco do seu ato. O presidente brasileiro Michel Temer afirmou no dia 21 de março que o Brasil e os Estados Unidos estavam negociando uma nova tarifa para a importação de aço e alumínio. E muitas pessoas conseguiram respirar aliviadas quando Temer afirmou que as novas tarifas anunciadas pelo governo americano não seriam aplicadas ao Brasil, pelo menos enquanto durassem as negociações².
Mas, afinal de contas, por que a medida do presidente americano foi caracterizada como protecionista e causou tanto ultraje no cenário internacional?
Livre Comércio, Globalização e Protecionismo
Octávio Ianni, em seu livro A Sociedade Global, aponta as características da globalização, que estão sintetizadas a seguir:
- Mundialização da economia por meio da internacionalização dos mercados, o que acaba desconfigurando as fronteiras geográficas clássicas.
- Descentralização do Estado;
- Internacionalização dos Estados, que acabam formando blocos regionais e tratados de livre comércio;
- Fragmentação das atividades produtivas, o que implica no surgimento de conglomerados multinacionais agindo em diferentes países.
- Estabelecimento e consolidação da internet.
Como apresentado no primeiro ponto, uma das características que definem a globalização é a mundialização da economia. Você muito provavelmente se lembra da crise econômica de 2008. Ela teve origem nos Estados Unidos, mas não ficou limitada apenas a ele. Ao contrário, alastrou-se como uma fagulha, afetando negativamente economias ao redor do globo.
Portanto, em um cenário marcado pela interconexão e interdependência das economias, uma medida como a taxação do aço e do alumínio pelos EUA tem implicações em todo o mundo. Tanto que várias montadoras de veículos norte-americanas acabaram expressando ser contra a medida. No fim, no caso dos veículos, ou eles se tornariam mais caros ou o lucro dessas empresas diminuiria. Os próprios cidadãos americanos seriam afetados negativamente pela medida que, pelo menos em tese, deveria protegê-los.
O Protecionismo sempre é negativo?
A complexidade da economia global acaba apresentando muitas exceções para casos específicos. Uma situação que acaba tornando essa medida louvável, pelo menos do ponto de vista do país que a aplica, é para ajudar no desenvolvimento de uma indústria nascente. Nesse caso, indústrias que estão começando a se desenvolver enfrentam uma competitividade desleal de países que já as possuem completamente desenvolvidas. Assim, o protecionismo nesse caso seria uma maneira de incentivar a indústria do próprio país em um cenário de concorrência desleal.
Enquanto as decisões protecionistas de Donald Trump fizeram muitos acreditam que o mundo estava encaminhando para uma guerra comercial, no fim os preceitos da globalização e do neoliberalismo acabaram prevalecendo e fizeram Trump voltar atrás em alguns pontos de sua decisão. O mundo voltou a respirar com alívio. Pelo menos alguns alguns países, como o Brasil a Argentina, A coreia do Sul e os que fazem parte da União Europeia.
Enquanto isso, a China se ergue cada vez mais como uma potência global e defensora do livre comércio.
No fim, ainda temos que apreciar a seguinte ironia: os Estados Unidos, país que mais gastou fôlego defendendo o liberalismo e o livre comércio, acabou mudando seu posicionamento e tomando uma medida protecionista que vai contra os ideais por tanto tempo apregoados pela potência. Enquanto isso, a China, um país que neste ano se encaminhou rumo a uma ditadura e possui íntimas relações com o socialismo, defende a ordem global. Os tempos são outros.
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